domingo, 17 de julho de 2011

O primeiro paciente terminal.

Eae Brasil, como vai a força? Quanto tempo sem postar, não é? Mas cá estou, depois de uma semana super intensa e marcante, na qual viajei para o interior e junto com 50 colegas participamos de uma espécie de "Ação Global", se assim me faço entender. Passamos 5 dias lá e logo no primeiro atendimento, do primeiro dia recebi no consultório que estava um paciente de 76 anos, agricultor, acompanhado de dois de seus filhos - o mais novo e o mais velho. Ele queixava-se de uma dor nas costas que o impedia de andar e de uma "úlcera no estômago", já os filhos queixavam-se da uma "amarelez nos olhos há dois dias". Há 20 dias ele deambulava e se alimentava. Na ocasião da consulta ele só tomava um copo de suco por dia e tinha emagrecido 14 quilos nesses 20 dias. No exame físico era notável uma massa de mais ou menos o tamanho de um limão. O primeiro pensamento: Neoplasia de Fígado. Com a informação de que estavam chegando todos os exames que havia sido feitos há 20 dias em outro estado fui pra casa, tentando imaginar algo mais praquele senhor. Meu preceptor sugeria Mieloma ou Câncer já disseminada. O primeiro exame que recebi foi Alfa Fetoproteína normal. Meu mundo caiu, como assim normal? E agora, no que pensar? Até que chegaram RNM e todos, mas todos os exames laboratoriais que qualquer um possa imaginar. Ele tinha marcador de Ca de Pâncreas bem alterado e de acordo com a RNM, Câncer em Fígado, Pulmões, Coluna Lombar e Ossos da bacia. Três dias depois eu estava de cara com os dois filhos do senhor e meu preceptor, que deu a notícia a família. Conter a emoção? Uma missão quase impossível. Ver aqueles dois homens chorando e me perguntando: "O que a senhora faria se fosse o seu pai?" não foi nada fácil. Eles perguntaram se deviam contar ao pai, se valia a pena arriscar qualquer tratamento e o que poderiam fazer para que os últimos dias do senhor não fossem tão angustiantes. Pessoas simples, sem estudos como eles mesmo enfatizaram, mas extremamente cuidadosas com o pai, dispostas a colocar em cheque todos os bens adquiridos com sofrimento em prol do conforto do pai "que só nós sabemos tudo que fez pra nos criar". Se todos os filhos fossem dedicados como aqueles dois....
Voltei pra casa reflexiva. E com a certeza de que não quero Oncologia pra minha vida. :(