sexta-feira, 6 de maio de 2011

Relatos na Psiquiatria

Sou dessas que nunca chora. Me sensibilizo muitas vezes, mantenho uma frieza aparente em quase 100% dos casos e chorar, isso nunca! Isso é em tudo na vida e sendo assim, inclusive na Medicina. Mas hoje o sistema foi bruto! Cheguei do ambulatório de Ginecologia saltitante. Realmente gosto de estar lá. E ao chegar - um pouquinho atrasada - na sala de aula me deparei com duas pacientes do CAPS. Uma já relatava seu caso e dava uma espécie de testemunho. Sua história me deixou pensativa. Ao lado desta senhora se encontrava uma moça um pouco mais jovem, aparentando tranquilidade e tudo mais. Todos pensavam que era a acompanhante da senhora. Até que de repente, não mais que de repente, essa moça começou a também contar sua história.
Esperava qualquer coisa dessa semana ingrata, menos ouvir algo desse tipo. Brevemente: Casamento de 17 anos, que passava por uma crise desde os 15. O esposo agredia os filhos quando algo não lhe agradava, a esposa não mais suportou e saiu de casa. Ficou sem nada e entrou com pedido de pensão. O ex-esposo se revoltou e passou a perseguí-la. Tentativa de homicídio. Não bastante, a moça perdeu o pai pouco tempo depois. Passou a sofrer ameaças e o ex-esposo fazia escândalos dia após dia na porta da casa da mãe. A mãe entrou em depressão. A moça ansiedade. Com o tempo, entrou em depressão profunda. Tentou o suicídio, pensou nos filhos e não suicidou-se. Agora está em tratamento, naquela fase bem tensa de recuperação, sabe? Ela contou isso tudo com bastante emoção e por muitas vezes não se conteve e chorou. E junto com ela, quase a classe toda. Inclusive eu.
Aí, eu que vivo em meio a devaneios, comecei a pseudofilosofar, daquele jeito, bem maroto. A pessoa de Girassol vira uma Dama da Noite assim, num estalar de dedos.
Não sei se é devido a hora (01h51min), mas começo a imaginar. O girassol, tão versátil, conhecido por sua riqueza de conteúdo, é aquele que acompanha toda a trajetória do sol, e mais, aquele que precisa da luz do sol pra sobreviver. De acordo com seu nome científico: Forte e Majestoso. É robusto e resistente e floresce o ano todo. Não tem muitos segredos, mas é preciso regá-lo sempre para cultivá-lo. O girassol quase nunca apresenta problemas, mas é preciso ficar de olho, afinal, seu contato com outras plantas pode contaminá-lo. Somos, normalmente, assim, não?
Normalmente. Até que algo acontece. Algumas lagartas aparecem e não são eliminadas logo no início e aí, de girassol, vira-se Dama da Noite! Ramos que de eretos tornam-se pendentes. É loucura comparar o surgimento da depressão com o surgimento de uma Dama da noite? Vigoroso, de rápido aparecimento. E o que falar das partes da Dama da Noite? Todas completamente tóxicas. Elas não podem ser cultivadas perto de janelas e as pessoas sensíveis, ah, essas devem passar longe delas. O cheiro dela é forte demais. O sol, tão querido pelo girassol, passa a ser repudiado pela Dama da Noite; esta gosta mais da sombra. Além disso, ela não tolera emoções fortes. Sabe as geadas, o frio intenso ou muito sal... pois é!
Ok, assumo que é pecado comparar a dama da noite, que não deixa de ser uma bela flor, com toda a obscuridade que cerca a depressão. Não tem nada a ver mesmo. É a psiquiatria que está me fazendo ter esses breves surtos, sabe? Ou talvez seja só a madrugada.
Whatever.
Continuo tendo medo - e pq não achando incrível, e não de um jeito muito bom - essa capacidade que a nossa mente tem de nos transportar do mundo normal pra todo esse mundo estranho, (que eu desejo nunca conhecer) assim, como num passe de mágica.

Post bem ruim, né?
Desculpem.

Abraços.
Volto pra corrigir os erros ortrográficos e/ou de digitação amanhã.